Reportagem

Cidades para pedestres: uma tendência global das grandes metrópoles

São Paulo e outros exemplos internacionais querem transformar a relação das pessoas com o local onde vivem.

10 de Janeiro de 2020

A busca por qualidade de vida está orientando uma mudança no planejamento das cidades para priorizar o pedestre. Grandes metrópoles ao redor do mundo possuem projetos do tipo.

Em Melbourne, na Austrália, está sendo desenvolvido o conceito de “bairros de 20 minutos”, em que os moradores podem atender à maioria de suas necessidades em uma caminhada, passeio de bicicleta ou transporte público, em um trajeto de 20 minutos. Hamburgo, na Alemanha, planeja transformar 40% de sua área em espaços verdes e sem carros. Nova Iorque, nos Estados Unidos, está reduzindo o espaço para veículos automotores e ampliando o de pedestres, inclusive na Times Square, assim como Barcelona, na Espanha.

No Brasil, essa mudança também é uma tendência, mas ainda há muito a ser feito, conforme indica o arquiteto e urbanista, Guilherme Torres. “Seguimos um modelo de urbanismo ultrapassado, com leis de zoneamento que criam zonas fantasmas nas cidades. Bairros estritamente residenciais, outros comerciais e assim sucessivamente. Seguimos um modelo que segrega a população, com baixo adensamento e à mercê de um transporte baseado no automóvel”, diz.

São Paulo é uma cidade que já segue em nova direção. O Plano Diretor Estratégico (PDE), de 2014, e a Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo (LPUOS), de 2016, incentivam a moradia perto do trabalho e a melhoria na forma urbana junto aos corredores de transporte público, por meio de edificações com fruição pública (uso do pavimento térreo para pedestres, usuários ou não da edificação), fachada ativa (comércio e serviços nos pavimentos térreos), alargamento de passeio público (com doação de áreas) e incentivo a edificações de uso misto.

“É uma tentativa do governo de regular o espaço público, melhorando a relação da população com a cidade”, comenta a arquiteta e urbanista Cirlene Mendes da Silva, coordenadora técnica dos cursos de pós-graduação Lato Sensu do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (IBAPE/SP).

Além disso, há iniciativas pontuais, como a restrição de circulação de veículos em determinados dias e horários em vias como a Avenida Paulista e o Elevado Costa e Silva, o Minhocão, além da reforma dos calçadões do centro antigo. 

Assim como a Paulista aberta, Minhocão virou atração em São Paulo

Porém, valorizar o pedestre não é apenas melhorar as calçadas. Essa concepção envolve todo um conceito de paisagem urbana, requalificação das quadras e regulação das edificações. O objetivo é fazer com que quem caminhe não tenha que andar por metros e metros por uma rua com muros altos de condomínios.

“A sociedade não pode mais conviver com o crescimento desordenado das cidades, que prioriza o uso do automóvel e acarreta longos e caóticos deslocamentos, aliados à pouca e má infraestrutura do transporte público”, pontua Cirlene.

A arquiteta e urbanista ainda enumera as vantagens de priorizar os pedestres nas grandes cidades:

  • Melhoria da qualidade de vida dos moradores, tanto no aspecto das relações sociais que o andar
    proporciona como nos benefícios à saúde;
  • Transformação da relação das pessoas com a cidade, sendo uma ótima forma de melhor conhecê-la;
  • Diminuição do trânsito e da poluição.

“São muitas as variáveis para uma boa qualidade de vida, mas, com certeza, uma delas é a diminuição do tempo de deslocamentos entre moradia e trabalho e, consequentemente, o aumento do tempo de lazer e de convívio entre as pessoas”, ela conclui. 

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