Reportagem

Integrar inteligência artificial à gestão pode melhorar a qualidade do ar dos prédios corporativos

Com aplicações potenciais diversificadas, a partir de dados coletados por sensores, a IA pode otimizar a operação da recepção, garagens, motores e até de sanitários.

31 de Janeiro de 2025
Autores:
  • Abgail Cardoso

O conforto térmico e a pureza do ar que circula nos escritórios são aspectos fundamentais para a satisfação dos ocupantes dos empreendimentos corporativos. Mais do que refrigerar, é preciso garantir a qualidade do ar, e a tecnologia é uma aliada indispensável para cumprir essa missão. O gerente técnico sênior da JLL, Evaldo Pisani, explica que existe no mercado uma diversidade de sensores para monitorar em detalhes a qualidade do ar e de outros aspectos ambientais. 

IA e real estate

A inteligência artificial tem um enorme potencial para remodelar a indústria imobiliária, com impactos de curto e longo prazos que vão desde o surgimento de novos mercados e tipos de ativos até inovações em modelos de investimento e receita.

A adesão a essa tecnologia, porém, ainda é baixa no Brasil, embora o custo tenha apresentado redução significativa nos últimos anos. Convencer os proprietários dos benefícios dos dispositivos – que podem ser alavancados com a utilização da inteligência artificial – é um dos desafios para a gestão de propriedades.

Nesse cenário, a JLL tem trabalhado para o aculturamento dos clientes e do mercado de real estate, mostrando a necessidade e os ganhos desse investimento. “Os sensores permitem coletar dados, por isso são o ponto de partida para o uso efetivo da inteligência artificial na gestão de aspectos ambientais nos empreendimentos corporativos”, afirma Weslei Rios, da JLL Technologies.

Uma novidade que pode ajudar nesse sentido é a mudança no modelo de contrato oferecido pelas empresas de sensores, que passaram a atuar no formato chamado Hardware as a Service. “O contrato de fornecimento é um regime de comodato e garante um período mínimo para o fornecedor e a atualização da tecnologia para o cliente, que não precisa mais ficar com equipamentos obsoletos, como acontece no modelo CAPEX + OPEX, quando ele mesmo compra os sensores”, explica Weslei. 

A qualidade do ar está atrelada aos entregáveis de sustentabilidade e é uma exigência legal regulamentada pela NBR 17037. Por isso, é fundamental fazer o monitoramento contínuo dos equipamentos para identificar precocemente eventuais desvios nos parâmetros de concentrações máximas de dióxido de carbono e orgânicos voláteis permitidas.

Além do custo de implantação de sensores de monitoramento, na visão do diretor de Gerenciamento de Propriedades da JLL, Fábio Martins, a adesão à inteligência artificial ainda encontra muita resistência. “Mas a IA está aí, não é uma questão de querer ou não. Ela trará soluções para quem souber extrair seus benefícios. O mercado precisa entender qual é a melhor forma de utilizá-la na operação e na gestão. Não podemos ter barreiras. Quem não souber extrair seus benefícios vai ter problemas”, afirma Fábio.

De acordo com Weslei, ao contrário do que muitos imaginam, as pessoas não serão substituídas pela IA, mas por pessoas que sabem utilizá-la. “Em 2020/2021, a inteligência artificial estava em terceiro/quarto lugar entre as tecnologias disruptivas, após metaverso e robótica. Hoje, já as ultrapassou, tão grandes são os retornos que a IA pode trazer para a humanidade”, diz.

Nos últimos cinco anos, a JLL adquiriu mais de 40 empresas de tecnologia ao redor do mundo e é a primeira do segmento de real estate a criar sua própria IA. “Não estamos muito distantes da implementação desse produto”, revela Weslei.  

Como a IA pode melhorar a qualidade do ar

Evaldo Pisani informa que a qualidade do ar está diretamente ligada às condições dos dutos, filtros e das bandejas do sistema de ar-condicionado e, para isso, é necessário ter uma rotina de limpezas periódicas, manutenção preventiva e coleta de amostras de ar para análise laboratorial. “Colônias de micro-organismos podem causar problemas respiratórios, rinite, bronquite, asma. E esse aspecto vem antes da temperatura em termos de prioridade. Primeiro a saúde.”

Pisani mencionou ainda que a partir de 25 de julho de 2024, a Resolução 09 da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que estabelecia os Padrões Referenciais de Qualidade do Ar Interior, em ambientes climatizados artificialmente de usos público e coletivo, foi substituída pela NBR 17037 - Qualidade do ar interior em ambientes não residenciais climatizados artificialmente - Padrões referenciais.

Mas a regulagem de temperatura do ar-condicionado é o que mais chama a atenção para os ocupantes dos escritórios. A expectativa é que a IA possa, com base em parâmetros como área, quantidade de pessoas no local e condições meteorológicas, facilitar o ajuste da climatização de forma a ser o mais agradável e eficiente possível.

“Estamos fazendo testes para monitorar não só a qualidade do ar, mas a ocupação do espaço, deixando o controle da temperatura sob gestão da inteligência artificial, dispensando a necessidade de ter um técnico para alterar a temperatura”, afirma Weslei.

Para Fábio Martins, o uso rotineiro da inteligência artificial é uma questão de tempo e o que está faltando neste momento é o investimento em sensores. “A partir de dados, perguntas certas e cruzamento de informações em diversos canais, ela é capaz de trazer respostas precisas muito mais rapidamente do que qualquer pessoa. Hoje, o prazo para substituição de filtros de ar, por exemplo, é indicado com base no tempo de uso, mas, com a inteligência artificial, poderá ser abreviado ou postergado, considerando outros fatores, como o nível de poluição atmosférica na localidade.

O mesmo raciocínio pode ser adotado para controle de outros aspectos ambientais, como a qualidade da água. “Um prédio ocupado pela metade tem rendimento diferente daquele 100% ocupado, o que pode demandar tratamento químico da água. A inteligência artificial vai permitir fazer cruzamentos de diversas fontes de informação e maior diversidade de parâmetros”, diz Fábio. “É um mundo novo a ser desbravado. Se não sabemos resolver algo, a inteligência artificial busca a solução que mais se encaixa a partir de dados”, complementa Weslei. 
 


Outros ganhos potenciais com a IA

Em prédios que trabalham em regime híbrido e há, portanto, variação na ocupação, a inteligência artificial pode dimensionar rapidamente a estrutura necessária na recepção, limpeza, controle de acessos, abertura de garagens e carga de ar-condicionado.

Em uma fábrica, pode planejar a quantidade de alimentos, entre outras possibilidades que ainda serão vislumbradas. O uso de sensores em motores permite identificar precocemente a necessidade de manutenção, evitando quebras.

Nos sanitários, com base no número de usuários, a IA propõe o período para a execução da ronda para limpeza e reabastecimento de insumos e ajuda a identificar desperdícios para ações de conscientização. Outra possibilidade seria monitorar resíduos dentro de um restaurante, pensando em questões de custos e de sustentabilidade também.

Com a otimização da operação, além de aumentar o bem-estar dos usuários, a expectativa é, obviamente, obter ganhos financeiros. “A adoção das tecnologias disruptivas, como internet das coisas e inteligência artificial, está sendo muito baseada na questão do retorno sobre investimento. Nosso papel é mostrar para os clientes os ganhos que terão com esse investimento”, diz Weslei.

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