Reportagem

Trabalho híbrido predomina na América Latina, mas empresas tendem a aumentar a frequência no escritório

Estudo da JLL mostra que 72% das empresas optam por modelo flexível, mas enfrentam desafios em relação à gestão de pessoas.

12 de Abril de 2024
Autores:
  • Agência Tecere

A América Latina é a região que mais adota o trabalho híbrido no mundo, com 72% das empresas utilizando o modelo. Este índice chega a 54% na área que engloba a Europa, o Oriente Médio e a África, 44% na Ásia-Pacífico e 41% na América do Norte. No Brasil, o número é ainda maior, com 86% optando pelo sistema flexível. É o que mostra o estudo Futuro do trabalho: Os modelos para o local de trabalho na América Latina, da JLL.

“No período pré-pandemia, o trabalho híbrido na América Latina ainda era algo experimental, geralmente, uma diretriz global de grandes empresas e restrito a um ou dois dias por semana fora do escritório. Hoje, essa realidade mudou. A transição para modelos mais flexíveis foi amplamente adotada por empresas de todos os setores, tamanhos e origens”, afirma Andreza Silva, líder de Workplace e Change Management da JLL.

Pesquisa

Futuro do trabalho: os modelos para o local de trabalho na América Latina

Tenha acesso aos resultados de uma pesquisa realizada com cerca de 300 empresas, de 13 países da América Latina, sobre os seus modelos de trabalho.

A pesquisa mostra que o trabalho presencial no escritório apresentou grande declínio após a pandemia, passando de 66% para 19%. O híbrido, por sua vez, praticamente triplicou, indo de 26% a 72%. O trabalho totalmente remoto não apresentou grande variação, passando de 8% a 10%.

Este é o primeiro estudo sobre modelos de trabalho na América Latina. Até então, não haviam informações em nível regional que permitissem às empresas ter acesso a uma perspectiva sobre as suas iniciativas para orientar as decisões estratégicas dos proprietários e investidores. As informações foram coletadas no final de 2023, em 13 países, entre 289 gerentes de RH e financeiros de empresas com presença na América Latina. A amostra contempla empresas locais, regionais e globais de mais de nove setores da economia.

O modelo de trabalho híbrido mais popular, utilizado por 29% das empresas, compreende dois dias de trabalho no escritório aliados a três dias remotos por semana. Este modelo é particularmente popular entre empresas com mais de 750 funcionários, multinacionais e empresas dos setores financeiro e de seguros e de tecnologia e telecomunicações. O Brasil se destaca com 45% das empresas operando sob este regime. Há quatro anos, o modelo híbrido mais popular era de apenas um dia remoto por semana.

Desafios do trabalho híbrido envolvem gestão de pessoas e dos espaços

Apesar do atual predomínio do trabalho híbrido, o estudo mostra que a questão não está resolvida. Isso porque metade das empresas pesquisadas planeja mudar seu modelo de trabalho: 3% delas migrarão para um modelo mais remoto, 36% ainda vão definir, enquanto 12% vão incorporar mais dias de trabalho no escritório. Deste último grupo, 70% são empresas que atualmente operam em modelos híbridos com dois ou três dias remotos por semana.

O trabalho híbrido traz diversos desafios para as empresas, principalmente em relação à gestão de pessoas e dos espaços. O mais comum é o baixo comparecimento aos escritórios, que afeta uma em cada quatro empresas da América Latina. Isto pode ser atribuído à falta de ferramentas para medir e incentivar o comparecimento, especialmente em modelos híbridos. A identificação de novos colaboradores que se enquadrem na cultura da empresa e a retenção de talentos completa a lista dos três principais desafios.

“A maioria das organizações não sabe como lidar com essa flexibilidade nem como gerar identificação do colaborador com a cultura corporativa de forma não presencial. Desta maneira, consideram o retorno ao presencial ou o aumento de dias presenciais como a única solução para tais problemas, sem avaliar, de fato, quais são as oportunidades para trabalhar a cultura organizacional e engajar os funcionários, mesmo à distância. A resposta a essa pergunta esbarra diretamente na retenção dos talentos e não deve ser ignorada”, afirma a especialista da JLL.

Enquanto as empresas ainda tentam descobrir como responder a essa questão, os colaboradores estão exigindo mais flexibilidade. Em 53% das empresas, os funcionários têm voz sobre o número e a escolha dos dias em que comparecem ao escritório. Por outro lado, em 85% das empresas que operam em modelo presencial, a decisão é tomada pelo empregador. 

Mudanças no modelo de trabalho levam a alterações nas negociações

Um aumento na frequência do trabalho presencial e, portanto, uma ocupação média mais elevada pode impulsionar a procura por espaços de escritório, especialmente nos edifícios mais atraentes de cada mercado. Em um novo paradigma em que os incentivos à presença no escritório são fundamentais para as empresas, a qualidade e a localização dos edifícios são essenciais. Assim, embora os modelos híbridos sugiram uma menor ocupação média de escritórios, os espaços devem ter outros atrativos.

“Ao desenhar o modelo de trabalho, não se deve pensar apenas em regras de frequência, mas em como a empresa incentiva os colaboradores a estarem bem no trabalho, seja ele remoto ou no escritório, sem gerar estresse e desmotivação. Isso significa que os novos escritórios devem incentivar o bem-estar. Porém, não existe fórmula única. É importante mensurar continuamente a frequência das pessoas, a utilização dos espaços e o perfil dos seus talentos para encontrar a solução mais adequada, inclusive, sabendo que dentro de uma mesma empresa cada área pode ter necessidades diferentes. Essa análise passa por workplace strategy e change management. Dessa forma, é possível garantir que os recursos não sejam subutilizados enquanto outros são super utilizados”, indica Andreza.

Segundo Roberto Patiño, diretor de Serviços Integrados de Portfólio da JLL, as mudanças no modelo de trabalho levam a alterações também nas negociações dos imóveis.

“As métricas mudaram. Antes, calculava-se uma quantidade de metros quadrados por pessoa considerando que elas ficavam em suas mesas. Hoje, não é isso que é esperado. São necessários mais metros quadrados por pessoa porque elas não estão restritas às suas mesas, estão circulando em espaços integrativos, apesar de haver menos pessoas ao mesmo tempo. É necessário refazer o espaço, sabendo que ele é cada vez mais temporário. As empresas não querem mais longos contratos, de 5 anos, como era comum. São contratos menores, de 12 meses, com preferência por espaços já mobiliados”, declara.

A queda do trabalho presencial no escritório implica um desafio, mas também uma grande oportunidade. Trata-se de um momento único para avaliar, com franqueza e com base em dados, qual é a melhor estratégia de trabalho para os colaboradores, alinhado aos interesses do negócio.

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