Reportagem

Como as mulheres estão enfrentando as questões de gênero no trabalho

Mulheres líderes do setor imobiliário compartilham suas ideias sobre o que é necessário abordar diante dos impactos recentes sobre a igualdade.

12 de Março de 2021

Há pouco mais de um ano, enquanto os desafios em torno da igualdade de gênero persistiam, o número de mulheres no local de trabalho estava aumentando. Com a pandemia de COVID-19, quase doze meses passaram e o que se vê é uma mudança no quadro, com a crise econômica afetando as mulheres de forma desproporcional no que diz respeito à manutenção de empregos.

Em 2020, as mulheres saíram do mercado de trabalho em um ritmo maior do que os homens, enquanto as desigualdades que já vinham enfrentando foram agravadas. O que vê, portanto, é o risco a longo prazo de um recuo de décadas de esforços em diversidade de gênero no local de trabalho.

Celebrando o Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, conversamos com mulheres em posições de liderança da JLL ao redor do mundo para entender o que deve ser feito. Apesar das especificidades que caracterizam cada região, existem discussões comuns sobre as questões de gênero no ambiente corporativo.

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Liderança à frente

O trabalho flexível e a assistência infantil desempenham um papel importante na capacitação das mulheres no local de trabalho. Mas o apoio por parte da liderança é igualmente importante, diz Ingrid Jacobs, Head Global de Diversidade e Inclusão da JLL.

“É preciso haver uma mudança de paradigma para além de uma mentalidade que não encoraje trazer sua vida pessoal para o local de trabalho”, comenta. “Atitudes simples, como garantir que as pessoas façam pausas durante o dia e definam limites para a vida profissional, por exemplo, não enviando e-mails tarde da noite, são coisas que todos os líderes podem fazer.”

Nos Estados Unidos, mais de 600 mil mulheres deixaram o mercado de trabalho em até setembro de 2020, um número oito vezes maior do que o de homens, de acordo com o Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA.

“Mais de 11 milhões de mulheres foram afetadas pela perda de emprego e dois milhões deixaram o mercado de trabalho”, diz Jacobs, que mora em Boston (Estados Unidos). “As empresas que lutam para que as mulheres permaneçam precisam pensar muito sobre o que será necessário fazer”, explica Ingrid.

Brasil enfrenta panorama semelhante 

O aumento do desemprego entre as mulheres não é uma exclusividade dos EUA. No Brasil, a situação é parecida, com 8,5 milhões de mulheres a menos na força de trabalho no terceiro trimestre de 2020 em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com dados do IGBE, colhidos na Pnad Contínua.

No quarto trimestre de 2020, por sua vez, o número de mulheres desempregadas continuou crescendo e chegou a 16,4%, 37,8% superior à taxa de desocupação dos homens (11,9%).

Infelizmente, o que vemos é que a taxa de mulheres no mercado de trabalho é a menor dos últimos 30 anos. Durante a pandemia, muitas tiveram que deixar os empregos para cuidar dos filhos, outras foram demitidas por seus empregadores, e ainda há uma outra parcela que viu seu projeto de voltar ao mercado de trabalho adiado”, conta Aline Leme, gerente Jurídica LatAm da JLL e líder do WBN Brasil.

Ela comenta, ainda, sobre os casos de mulheres que segue empregadas, mas sofreram com a menor produtividade no trabalho em decorrência das tarefas acumuladas em casa, o que pode impactar sua continuidade no futuro ou mesmo a possibilidade de crescimento profissional. Para Aline, a missão de voltar a promover maior equidade de gênero no ambiente corporativo deve partir da iniciativa pública e privada.

“São necessárias políticas públicas eficientes, e a iniciativa privada deve estar muito atenta em suas decisões com impacto em igualdade de gênero para que nada seja feito de maneira enviesada, estereotipada. Além disso, cabe as empresas reimaginar o modo de trabalhar, tornando os espaços mais inclusivos, propiciando horários flexíveis e condições para a melhor execução por parte das mulheres”, explica Aline.

 

Programas de emprego minimizam impacto na Europa

Na Europa, onde países como Suécia e Holanda são famosos por suas políticas de emprego familiares, as mulheres podem sofrer um impacto menor em relação a outros países, diz Sabine Eckhardt, CEO da JLL para Europa Central e Oriental. Ela observa que o equilíbrio entre vida pessoal e profissional ainda é uma questão a ser considerada, e os empregadores devem permitir que as mulheres gerenciem suas vidas domésticas.

“As mulheres com quem me conecto não querem tratamento especial”, diz ela. “Elas querem ser recompensadas por trabalharem duro. Devemos oferecer apoio às nossas colaboradoras, mas não devemos ultrapassar as barreiras”, finaliza Sabine.

Anny Zhang, Diretora Geral da JLL para a China Oriental, segue a mesma linha de pensamento. “Iniciativas como o Dia Internacional da Mulher são fantásticas, mas precisamos de reconhecimento por nossas contribuições acima de qualquer outra coisa. Isso significa ver mais mulheres em cargos de liderança.”

 

Investimento em educação e treinamento

Apesar das manchetes que preveem a inversão de uma geração de trabalho, as líderes femininas da JLL estão otimistas. Todas concordam que o setor imobiliário, uma indústria historicamente dominada por homens, não está imune aos desafios, mas se encontra bem posicionada para resistir à tempestade.

“Eu não acho que isso prejudique tudo, mas os líderes empresariais precisam corrigir o curso rapidamente para evitar danos a longo prazo nas taxas de contratação feminina. A diversidade traz mais faturamento e é um facilitador de negócios, então as empresas que mantiverem seus valores durante esse período terão um bom desempenho”, finaliza Ingrid Jacobs.