Cidades inteligentes japonesas viram exemplo para as brasileiras
Tecnologia e inovação do Japão podem contribuir para o desenvolvimento de cidades mais sustentáveis e inteligentes.
Inovação e sustentabilidade são conceitos inseridos nas estratégias de empresas com atuação nos mais diversos setores da economia. Sua importância, no entanto, tem aumentado nos últimos anos, a ponto de se tornarem dois itens fundamentais para o crescimento das megalópoles mundiais no futuro. Com isso, o tema cidades inteligentes conquistou o status de assunto do momento. Afinal, como será possível administrar locais habitados por milhões de pessoas com total eficiência e qualidade de vida daqui para a frente?
Para se ter ideia da realidade, dados recentes do Banco Mundial revelam que o número de habitantes nas cidades tem aumentado significativamente, correspondendo a 65,7 milhões a mais por ano. Previsões da Organização das Nações Unidas (ONU), por sua vez, indicam que, nos próximos 30 anos, elas contabilizarão mais 2 bilhões, passando dos atuais 3,9 bilhões para cerca de 6 bilhões de indivíduos, concentrados principalmente em zonas urbanas. Além do transporte, os investimentos e a busca de alternativas mais eficazes estão relacionados a segurança, habitação, energia, saneamento, saúde, entre outros, tornando-se um desafio para os governantes e uma oportunidade para as empresas. São os grandes centros tecnológicos, aliás, que têm obtido destaque nesse quesito. No Brasil, vários projetos estão saindo papel e começam a ser implantados.
Um dos exemplos é a Linha Amarela do Metrô de São Paulo, que conta com uma frota sem condutor, permitindo a operação remota dos trens e redução de espera nas plataformas. Em 2010, o Rio de Janeiro inaugurou o Centro de Operações Rio – uma central de dados que monitora a cidade por meio de 400 câmeras –, introduzido de forma semelhante em Porto Alegre. Tecnologias como essas são inspiradas em sistemas inteligentes presentes em metrópoles mundiais, a exemplo de Nova Iorque e grandes centros europeus.
Referência mundial em tecnologia, o Japão também se destaca na concepção de cidades inteligentes, sendo Tóquio uma das mais beneficiadas pelos modernos sistemas desenvolvidos pelo país. Apesar das diferenças climáticas e demográficas, o Brasil tem muito a aprender com o Japão nesse quesito. Emerson Kodama, coordenador de Projetos da JLL, da área de Gestão de Projetos e Obras, conhece bem essa realidade. Depois de conquistar uma bolsa de estudos financiada pelo governo japonês para cursar Tecnologia da Construção na Universidade de Chiba, na cidade de Chiba, região metropolitana de Tóquio, entre 1999 e 2001, ele retornou ao Japão em 2008 para realizar uma pesquisa na Universidade de Tóquio sobre construções sustentáveis.
“A cidade é uma das mais populosas do mundo, sendo totalmente otimizada. Além do eficiente sistema de transporte e dos espaços dinamizados, Tóquio é um local que conta que uma tecnologia de ponta para enfrentar situações adversas”, explica o arquiteto.
Além disso, segundo ele, logo no início de 2000, o Japão já demonstrava sua vocação sustentável com a prática da reciclagem. Em 2008, esse conceito já estava amplamente difundido e aprimorado. “Notei uma grande evolução tecnológica nos sistemas antiterremoto. Os prédios hoje contam com sistemas de amortecimento, capazes de resistir a grandes abalos sísmicos. Em relação à sustentabilidade, os dutos de ar-condicionado, por exemplo, utilizam materiais alternativos, como o papelão”, acrescenta, ao mencionar que atualmente tudo é desenvolvido com o objetivo de minimizar os impactos ambientais.
Outro ponto curioso observado são as edificações subterrâneas, muito comuns na metrópole. Ciente da necessidade de reduzir o consumo de energia elétrica, a cidade adotou sistemas de captação e reaproveitamento da luz solar. Detalhistas, os japoneses também comprovam que a sustentabilidade deve se unir à boa convivência e hospitalidade. Durante a Copa do Mundo de 2002, todas as placas de estradas e pontos turísticos foram cuidadosamente sinalizadas em inglês, facilitando o tráfego da população e dos turistas.
“Esse é um ponto que o Brasil pode usar como referência. Outro, acredito, são os parques japoneses. Por não existirem muitas áreas de convivência em Tóquio, esses locais são muito bem conservados e limpos. Uma questão que também envolve a conscientização da população e que atrai turistas todos os anos”, enfatiza Kodama.
Especificamente sobre o tráfego, um dos principais gargalos da metrópole paulistana, Kodama ressalta que a funcionalidade do transporte público reduz significativamente o uso dos automóveis no Japão. “Existe não apenas um sistema eficaz e moderno – que evita o risco de falhas durante o trajeto –, mas também um comprometimento e respeito aos horários. Se o usuário foi informado de que seu trem chegará às 17h04, não haverá atraso de um minuto. Isso certamente pode ser considerado um exemplo de cidade inteligente e que respeita o cidadão”, avalia Kodama.