Como os nativos ESG e o capitalismo de stakeholders estão transformando os negócios
Impulsionado pela crise climática, o avanço da agenda ESG promove uma nova visão de mundo na sociedade.
- Agência Tecere
“O S, da sigla ESG, convida as empresas a atuarem para elevar o patamar civilizatório”, diz Reinaldo Bulgarelli, secretário Executivo do Fórum de empresas e direitos LGBTI+ e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República. Com essa reflexão, ele abre sua participação no podcast “ESG com Luciana Arouca #08 - Destrinchando o ‘S’ da agenda ESG”.
Ele inicia a conversa com a diretora de Sustentabilidade da JLL pontuando que, no Brasil, há a tendência de reduzir o S à desigualdade social e à pobreza, mas, no mundo, ele é entendido como uma dimensão cultural da vida. “Por exemplo, enfrentar o machismo e o racismo são dimensões que transcendem a classe social e a questão da desigualdade, apesar de envolvê-las, já que um de seus efeitos é exatamente gerar desigualdade, uma desigualdade baseada em características e não em competências”, afirma.
Se, por um lado, existe um cenário de grande pressão nas organizações para cumprir as metas ambientais, por outro, há uma série de desafios em relação à força de trabalho e ao impacto social de maneira geral, pontua Arouca.
“Eu, particularmente, acredito que se as organizações pudessem abordar o social ao lado do ambiental, haveria uma oportunidade única de fornecer retornos sustentáveis de longo prazo e ativos que a gente chama de ‘à prova de futuro’, além de gerar mudanças positivas para as comunidades e as cidades”, afirma a diretora da JLL.
Bulgarelli concorda e resume que o S, de ESG, se refere às pessoas. “É a gente se perceber como parte do problema, mas também da solução, assim como as nossas organizações. É para que a gente colabore melhor uns com os outros para enfrentar os desafios da crise climática que nós criamos com o nosso modo de viver e de ser como empresa”, declara.
O avanço da agenda e os nativos ESG
Para Bulgarelli, um bom sinal de que a agenda ESG está avançando é o fato de que ela começa a gerar resistência, pois envolve transformações culturais, políticas e de visão de mundo. As novas gerações, que vêm com uma maior consciência ambiental, já são chamados de nativos ESG e colocam isso como um critério na hora de consumir e de escolher onde trabalhar.
“Não é um assunto só de uma geração nova, é uma visão de mundo que está contagiando todas as outras. As empresas estão correndo atrás disso porque elas vão ter cada vez mais dificuldade de lidar com as regras colocadas, do ponto de vista das leis e do próprio ambiente empresarial se auto regulamentando, mas também para contratar gente. As pessoas se perguntam: que impactos essa empresa gera?”
A JLL é uma empresa que se preocupa com o impacto que gera no mundo e tem vários reconhecimentos nessa área. O mais recente veio com o Prêmio Líderes de Acessibilidade 2023, na categoria Melhores Iniciativas de Acessibilidade, pelo Guia REIS de Comunicação Inclusiva e Acessível, publicado pela Rede Empresarial de Inclusão Social (REIS).
O documento é uma iniciativa que surgiu em 2020 a partir de um dos encontros de profissionais de comunicação das empresas que integravam o Grupo Diretor da REIS, entre elas a JLL, que participa ativamente das discussões e iniciativas em prol da construção de um mundo melhor. Entre os objetivos do grupo, estão a busca por melhores métodos e ferramentas para oferecer acessibilidade às pessoas com deficiência nas organizações empresariais.
Geração de valor no capitalismo de stakeholders
Em meio a essa ampliação de consciência, sai de cena o capitalismo de acionistas, aquele voltado exclusivamente a gerar lucro para os acionistas, e ganha espaço o capitalismo de stakeholders, em que o objetivo não é só distribuir dinheiro aos acionistas, mas também gerar valor para os fornecedores, os clientes e a comunidade como um todo.
“É um desafio, porque tem algumas empresas com essa consciência e outras, não. Tem alguns clientes que te empurram numa boa direção e outros, não, pelo contrário, te puxam para uma visão estreita de lucro. Então, tem que regular cada vez mais, a gente vai ter que achar formas de estabelecer alguns parâmetros para orientar a nossa conduta do ponto de vista dos negócios. É um movimento de transformação”, analisa Bulgarelli.
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