Opinião

Acessibilidade facilita inclusão da pessoa com deficiência

Brasil evoluiu bastante nessa área nos últimos 15 anos, mas ainda são grandes os desafios.

17 de Maio de 2017

Conversamos sobre acessibilidade com Guilherme Bara, que foi um dos nossos convidados no lançamento do Comitê de Diversidade da JLL. Atualmente, ele é responsável pelo relacionamento da Fundação Espaço ECO, mantida pela BASF, com órgãos governamentais, paragovernamentais e instituições do terceiro setor. Foi chefe de Gabinete da Secretaria da Pessoa com Deficiência na cidade de São Paulo e diretor membro do Comitê de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).

Como está o Brasil no tema acessibilidade em geral e nas empresas?

Guilherme Bara – A situação atual é, sem dúvida, muito melhor do que há 15 anos. Tivemos avanços em acessibilidade de forma geral, porque a consciência da sociedade aumentou em relação ao tema. Podemos ver nas ruas, na tecnologia, ônibus adaptados, serviços de suporte no metrô, ferramentas que facilitam exercer um trabalho. Por outro lado, nossa base de comparação de 15 anos atrás era muito ruim. Então, tivemos avanços, mas os desafios são enormes.

O que contribuiu para a maior conscientização da sociedade sobre a acessibilidade?

Guilherme Bara – A Lei de Cotas, criada em 1991, foi muito importante para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Milhares de pessoas foram para o mercado de trabalho, e isso teve um efeito colateral positivo. Aumentou a convivência, deu visibilidade e evidenciou as necessidades. As empresas e a sociedade tiveram de criar condições para a mobilidade e a produtividade das pessoas com deficiência. A Lei Brasileira da Inclusão, que entrou em vigor em 2015, veio consolidar toda a legislação referente aos direitos da pessoa com deficiência num documento só. E ela vai além da inclusão no trabalho. A presença de personagens cadeirantes e com deficiência visual em novelas e em noticiários e a popularização das paraolimpíadas também ajudaram a desmitificar o tema e a sensibilizar a sociedade, ainda que, às vezes, haja um certo paternalismo ou exagero no tratamento.

Quais são as prioridades para facilitar a inclusão de pessoas com deficiência no mundo corporativo?

Guilherme Bara – A tecnologia para uso geral trouxe facilidades. Nas empresas, porém, os desafios para as pessoas com deficiência visual estão ligados às dificuldades de acesso às redes corporativas – por exemplo, intranet, portais internos e ferramentas de gestão ainda não são muito acessíveis para leitores de tela. As pessoas têm dificuldade para se comunicar com os colegas que têm deficiência auditiva por falta de conhecimento básico da linguagem de sinais. Mas o maior desafio é quebrar as resistências que as pessoas têm na hora de contratar uma pessoa com deficiência. Infelizmente, essa resistência ocorre inclusive por parte dos RHs, que deveriam ser os facilitadores dos gestores nesse processo.

De que modo a tecnologia pode ajudar na evolução da acessibilidade para as pessoas com deficiência?

Guilherme Bara – A incapacidade é o resultado da deficiência versus a barreira do meio. Nesse sentido, a tecnologia é uma super aliada para que as pessoas com deficiência vençam as barreiras do meio. Hoje, existem aplicativos que passam textos para a língua de sinais. Graças aos leitores, deficientes visuais conseguem usar o computador e o celular. Mas nem todas as marcas estão preocupadas com isso. O importante é que estamos num processo que não tem volta. A inclusão social das pessoas com deficiência – e, consequentemente, a acessibilidade – tende a ser cada vez maior. Um aspecto interessante é que no Brasil temos um convívio muito melhor, a parte humana aqui está mais evoluída. Na Europa, onde a deficiência física era associada ao herói de guerra, a arquitetura de acessibilidade é muito melhor, mas as pessoas com deficiência vivem mais segregadas. Aqui estamos mais misturados. E isso é muito bom.