Reportagem

Design para a vida: como o escritório pode tornar seu dia a dia mais saudável

Em muitos casos, locais de trabalho já são aliados no combate ao sedentarismo.

17 de Abril de 2019

O dia a dia no escritório já foi tradicionalmente sedentário, mas, à medida que as empresas modernizam os seus locais de trabalho com ambientes flexíveis e open space, buscando mais produtividade por meio da conexão e da interação entre as equipes, as pessoas também passam a se movimentar mais ao longo do expediente. O que é bom! Esses espaços colaboram até com aqueles que ainda não priorizam estilos saudáveis de vida.

Seja com o posicionamento de mesas e impressoras em lugares mais afastados ou com a disponibilidade de banheiros com chuveiros para corredores e ciclistas, os ajustes em facilities e na cultura do local de trabalho podem ajudar a tornar os colaboradores mais ativos durante o dia.

Esse pode ser um investimento frutífero: pesquisas sugerem que funcionários ativos tendem a ser mais saudáveis e mais produtivos. Um estudo da Universidade da Califórnia de 2017, por exemplo, revelou que participar do programa de bem-estar corporativo de uma empresa aumentou a produtividade do trabalhador em 4%, em média.

Já um estudo da Universidade de Tampere, na Finlândia, indicou que caminhar durante os intervalos de almoço pode ajudar a melhorar a concentração e reduzir os níveis de estresse durante a tarde.

Contando os passos

Na JLL Brasil, já há quem tenha percebido que a vida no escritório pode ser, sim, mais saudável do que aquela levada em casa.

“Caminho 2,5 km, em média, quando estou no escritório. Nos dias de home office, esse número cai para menos de 1 km”, conta a diretora de Comunicação e Marketing, Larissa Aranha, que usa um aplicativo do telefone celular para contabilizar seus passos e mensurar o trajeto percorrido ao longo de um dia.
 

Cotidiano no escritório faz com que as pessoas se movimentem mais


Segundo Larissa, a diferença se dá em função da rotina mais dinâmica do escritório, onde ela transita entre salas de reuniões, postos de trabalho de colegas de outras áreas da empresa, toalete e cafeteria. No horário de almoço, a maioria dos funcionários ainda se desloca até os restaurantes da vizinhança do São Paulo Corporate Towers, onde está sediada a JLL Brasil.

“Em casa, é muito diferente. O dia é focado em atividades em que não preciso interagir com pessoas, portanto permaneço concentrada no computador. Qualquer interação é feita por Skype e telefone – ou seja, não preciso me movimentar”, explica a diretora de Comunicação e Marketing.

Bicicletários, pistas de corrida e salas de ioga

Para que mais pessoas sigam os passos de quem já se conscientizou sobre a importância das atividades físicas, edifícios comerciais modernos estão sendo projetados ou redesenhados considerando a mobilidade. Colocar escadas em locais de destaque e ocultar elevadores próximos é um caminho. Oferecer bicicletários em áreas de subsolo em vez de dar mais espaço para carros surge como outra opção.

“As comodidades para os ciclistas e a segurança das bicicletas são cada vez mais comuns, do mesmo modo que armários, vestiários, chuveiros e áreas para troca de roupa”, diz Gordon Byrne, designer criativo da Tétris Londres. “É uma forma para as empresas promoverem o bem-estar dos seus funcionários. Facilitar o uso da bicicleta como meio de transporte é visto como um benefício do local de trabalho, ajudando na atração e na retenção de funcionários.”
 

Oferecer condições ao uso da bicicleta é considerado um benefício


O raciocínio é válido para o Brasil, conforme mostrado recentemente pelo Tendências & Insights. No São Paulo Corporate Towers, por exemplo, cerca de 200 pessoas fazem uso diário do bicicletário do edifício corporativo, que já planeja a ampliação do local.

Instalações esportivas e academias também estão em alta pelo mundo. As pistas de corrida no terraço dos escritórios do Google e da Adobe em Londres motivam funcionários a treinar no horário de almoço. Uma das mais recentes adições ao panorama urbano de Londres, o conceito de local de trabalho da Twentytwo no prédio 22 Bishopsgate terá até uma parede de escalada instalada na janela do 25º andar. Outras empresas estão adotando discretas rotas de caminhada externas ou internas para incentivar reuniões andando, ao estilo Steve Jobs.

“Vemos salas de reuniões formais dando lugar a espaços mais flexíveis e multifuncionais, que podem ser usados para o bem-estar, como sessões de ioga nas horas livres”, complementa Byrne.

Mobiliário moderno

Enquanto muitas mesas ainda são projetadas para se trabalhar sentado e digitando, novos modelos apresentaram alternativas nos últimos anos, de acordo com o designer criativo da Tétris Londres.

“Mesas menores deixam mais espaço para a equipe circular, inclusive com skates e patinetes”, afirma Byrne. “Um cliente de tecnologia da Soho tem uma prateleira de skates personalizados para os funcionários na parede da recepção e projetou o piso, além do ambiente, para permitir que a equipe patine de mesa em mesa”, completa.

Por outro lado, algumas iniciativas, como reduzir o número de mesas para criar ambientes de trabalho mais ativos, podem dar errado.

“Alguns funcionários preferem ter a sua própria mesa e espaço para guardar objetos e podem perder a concentração sem eles”, alerta Byrne, que considera novidades como balanços e escorregadores desnecessárias e chamativas. “É importante entender a demografia do escritório para reconhecer como os indivíduos trabalham melhor, não apenas considerando as gerações mais jovens, e adaptar o ambiente para favorecer essa questão, e não impor novas tendências a todos.”

Tecnologia em benefício da saúde

A tecnologia pode funcionar como um incentivo à atividade física. A inovação dos espaços de trabalho chegou para complementar o uso de aplicativos que contabilizam passos e calorias.

Nos escritórios da Delos em Nova Iorque, por exemplo, sensores nas escadas registram quantos degraus os funcionários sobem ou descem, adicionando, a cada trajeto, uma gota de água a uma tela eletrônica que exibe uma cachoeira.
 

Escadas incentivam a construção de um futuro melhor para os funcionários


“Rastreadores podem fornecer informações sobre o uso de mesas e de salas de reunião, além do tempo que as pessoas passam em diferentes áreas do escritório. Esses dados servem para aperfeiçoar os layouts”, comenta Byrne.

Um futuro social

Com as expectativas dos funcionários em relação a mudanças nos locais de trabalho em alta e com as empresas com um foco cada vez maior na humanização dos seus ambientes, muitos dos princípios de design vigentes se adaptam bem a uma maneira mais colaborativa e flexível de atuação.

“As mesas sempre terão lugar, mas se tornarão menos importantes”, indica Byrne. “Como alternativa, os escritórios serão mais parecidos com os lobbies de hotéis, quebrando barreiras e oferecendo maneiras diferentes e mais sociáveis de trabalho. Da forma correta, isso pode fazer com que os funcionários sejam mais felizes, saudáveis e engajados”, aposta.

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