Reportagem

Por que a iluminação certa é uma necessidade de locais de trabalho saudáveis

Pesquisadores têm refinado seu conhecimento sobre como a luz, em todas as suas ondas coloridas, exerce um papel importante ao influenciar o sono, a digestão e até mesmo as nossas vontades.

15 de Janeiro de 2019

À medida que a ciência cicardiana (estuda o ciclo biológico dos seres vivos no período de 24 horas) chega ao mainstream – em parte devido ao crescimento de US$ 4,2 trilhões da indústria do bem-estar –, novos sistemas de iluminação com a função de melhorar a saúde e a produtividade ganham espaço nos locais de trabalho.

“As empresas estão começando a pensar nos seus imóveis como um meio de proporcionar mais saúde aos funcionários”, diz Keara Fanning, que lidera práticas de sustentabilidade na JLL. “Como seres humanos, evoluímos para acordar com o nascer do sol e dormir com o pôr do sol. Quando a iluminação faz o contrário disso, somos afetados”, acrescenta.

Gestão da mudança para o novo escritório

Há muito tempo, pessoas têm associado dias nublados com fadiga e tristeza. Só recentemente, porém, os cientistas conseguiram comprovar a relação.

No início dos anos 2000, pesquisadores identificaram fotorreceptores nos nossos olhos que, ao invés de nos ajudar a enxergar, auxiliam a regular o relógio biológico. Outro grupo de cientistas apontou que esses receptores são mais sensíveis a ondas de luz azul, que suprimem a produção de melatonina, o hormônio do sono. Isso significa que uma exposição intensa à luz azul pode te deixar acordado à noite – e mantê-lo focado durante o dia.



A pesquisa influenciou algumas novidades na área – de óculos que bloqueiam a luz azul durante a noite a lâmpadas solares capazes de ajudar até com depressão sazonal. Esse princípio básico está sendo aplicado também em locais de trabalho, para melhorar a saúde de funcionários.

Na sede da empresa de arquitetura Arup Group em Boston, por exemplo, um sistema de iluminação que altera a temperatura e a intensidade da cor durante o dia foi instalado para atender a uma das recomendações do WELL Building Standard, um programa voltado a prédios e espaços interiores com o intuito de promover a saúde e o bem-estar. Esse escritório equilibra a iluminação natural com um projeto de iluminação indireta, criando um espaço claro e balanceado. Luzes quentes e coloridas, que naturalmente reduzem a quantidade do azul indutor de insônia, são utilizadas à noite.

Já no espaço da Delos em Nova Iorque, detentor da certificação Platinum do WELL Building Standard, um sistema de iluminaçãocombina LEDs dinâmicos e com variação de cor com sensores de luz do dia e de ocupação para proporcionar sempre o melhor ambiente. Dessa maneira, o relógio biológico das pessoas é regulado com a emissão de luz azulada brilhante durante o dia, suprimindo a melatonina, e com o acréscimo de luz amarelada à medida que a noite se aproxima, estimulando a produção do mesmo hormônio.

Como se passa muito tempo da vida trabalhando, a iluminação de um escritório pode ter um grande impacto nos sinais com que o corpo percebe o dia ou a noite. “O corpo gosta de uma mensagem clara”, afirma Shruti Koparkar, responsável por estratégia corporativa na Ecosense Lighting, uma empresa que está desenvolvendo uma tecnologia de iluminação com foco em eficiência biológica. “Muita luz azul sinaliza dia e o contrário dá a ideia de noite. Quanto maior for essa diferença, mais fácil para o nosso corpo se adaptar a um ciclo de 24 horas. Se não há muita diferença, o corpo fica confuso”, alerta.

Luz natural e design

A luz solar é ideal em um ambiente de escritório porque inclui todas as cores e proporciona melhor visibilidade. De acordo com Keara Fanning, da JLL, um espaço de trabalho aberto, que permite a entrada de luz sem o bloqueio de paredes, traz benefícios às empresas.

“O ideal é que todo trabalhador tenha acesso à vista. Mas, quando não é possível, você pode atravessar o telhado para fazer a luz entrar ou recorrer a uma projeção com espelhos”, comenta Fanning.

Já Jessica Cooper, diretora comercial do WELL Building Institute, considera o “gerenciamento do brilho” importante quando se pensa na saúde e no conforto do empregado, mas pondera que o tempo de exposição ao sol de um determinado local geralmente é pequeno.

“Os funcionários muitas vezes fecham as persianas manuais durante os 10 minutos de clarão e se esquecem de abri-las novamente. Isso vai na contramão do objetivo de ter acesso à luz do dia”, alerta Cooper.

Os benefícios da automação

A automação pode ser uma solução para quem deseja ter sombra na medida certa. Na sede do grupo imobiliário Mirvac em Sydney, que possui a certificação Gold do WELL Standard Building, existe uma abordagem inovadora. O prédio é cercado por camadas triplas de vidro, separadas por pequenas cavidades. Dentro de uma delas, em meio a duas camadas de vidro, foi projetado um sistema de persianas que se ajusta automaticamente de acordo com a posição do sol.



Dessa forma, a fachada tem eficiência energética e isolamento térmico ideal, além de reduzir o brilho e oferecer conforto visual. Quando as persianas estão completamente fechadas, há a emissão de uma luz suave com tonalidade dourada para iluminar o espaço interior. E, quando o brilho do sol não é um problema, as persianas ficam totalmente abertas e proporcionam vistas deslumbrantes para o exterior.

“A automação está ficando mais comum, mas ainda é bastante singular e requer um investimento adicional”, ressalva Cooper, do WELL Building Institute. “Essa solução necessita que as persianas sejam motorizadas e programadas para subir ou descer de acordo com o sol. Algumas tecnologias responderão a sensores de luz solar dentro e fora do prédio, fazendo as persianas ainda mais responsivas aos níveis de luz e brilho”, complementa.

Em espaços onde a luz solar não está disponível, um sistema de iluminação que a imita é o que há de melhor por vir. A Ecosense realizou um experimento informal com os seus funcionários, usando um protótipo da sua tecnologia de iluminação dinâmica em uma sala sem janelas. Na primeira semana, os participantes se sentaram sob luzes estáticas. Na segunda, posicionaram-se diante de painéis de luz que aqueciam suas cores à medida que o dia passava. Com a chegada da noite, aqueles que permaneciam no local de trabalho tinham contato com uma luz de tonalidade ainda mais quente.

Para os participantes do experimento, as transições ajudaram. Um deles classificou a luz vespertina como tranquilizante e boa para se adaptar à luz de baixa intensidade do trajeto para casa.

“Tudo na natureza está se movendo ou mudando”, analisa Shruti Koparkar, da Ecosense. “Esse experimento mostrou que talvez humanos sejam mais felizes quando as luzes refletem isso. A solução ideal é sair de um ambiente fechado, mas, quando não podemos fazer isso, trazemos o que está lá fora para dentro”, conclui.