Como as empresas projetam os escritórios do futuro a partir da experiência do trabalho remoto
Com base em pesquisa realizada pela JLL, a maioria das pessoas gostaria de retomar parte da rotina anterior à pandemia, trabalhando nos espaços corporativos.
- Mateus Videira
Passado um ano do início da pandemia de COVID-19, são crescentes os sinais do cansaço proveniente do trabalho remoto. A ausência do relacionamento presencial, o excesso de horas dedicadas à frente da tela do computador e de reuniões virtuais estão impactando na redução do número de dias que os colaboradores desejam estar fora do escritório, de acordo com uma pesquisa realizada pela JLL em março de 2021.
Mesmo com a flexibilidade sendo considerada uma prioridade pensando no futuro do trabalho, a rotina em sistema remoto tem feito com que as pessoas se sintam menos produtivas do que há um ano. Ao que tudo indica, uma parcela crescente da força de trabalho quer estar presente mais vezes por semana no escritório e trabalhar menos de casa no futuro.
“Enquanto estão trabalhando em casa, as pessoas se sentem presas em um 'dia sem fim' e estão perdendo até mesmo a noção do tempo”, explica Flore Pradere, diretora global de Pesquisa da JLL. “Os funcionários aspiram por padrões de trabalho mais equilibrados.”
Barômetro de Preferências do Funcionário
Como as impressões dos funcionários sobre o trabalho remoto e as expectativas quanto ao espaço corporativo mudaram durante a pandemia?
Embora o trabalho, atualmente, seja muito mais flexível em comparação ao período pré-pandemia, a ideia de estabelecer um sistema remoto permanente não faz parte do planejamento da maioria das empresas. Nos últimos meses, muitas delas têm analisado como implementarão estruturas híbridas para satisfazer os anseios de todos os tipos de colaboradores e, ao mesmo tempo, da companhia.
“Hoje, existe um apetite da força de trabalho pelo retorno aos escritórios. Porém, vemos muitas empresas estudando as possibilidades e observando o mercado, discutindo internamente políticas de home office, o uso da tecnologia e como tornar os escritórios mais atraentes. É um momento de busca por informação e menos de tomada de decisão”, analisa Roberta Hodara, especialista em Workplace & Change Management da JLL.
Uma pesquisa da JLL realizada com 3.300 funcionários em março comprova que o desejo dos colaboradores tem mudado ao longo dos meses. Os dados mostram que a maioria quer trabalhar em casa 1,5 dia por semana. Em uma pesquisa semelhante realizada em abril do ano passado, o índice estava em 2 dias.
Outro aspecto relevante diz respeito à produtividade. Em 2020, 48% da força de trabalho se sentia mais produtiva em casa do que no escritório. Agora, além de um terço não querer mais trabalhar de casa, o número está em 37%, uma queda de cerca de 10% em quase um ano.
Diante do desejo de parte dos funcionários pelo retorno aos espaços corporativo, muitas empresas estão reabrindo os seus escritórios, mesmo com a capacidade reduzida e rígidos protocolos de segurança, sempre com o objetivo de estimular o pensamento inovador e colaborativo que acontece presencialmente.
“As pessoas que estão indo ao escritório algumas vezes por semana relatam uma experiência nova. Em casa, ficamos muito restritos ao trabalho e sentimos falta da interação. No escritório, a rotina é completamente diferente e a experiência é interessante. O objetivo é socializar, e cabe à empresa proporcionar espaços para que isso se concretize”, diz Andressa Tomasulo, HR Country Head for Consumer Business Brazil da GSK Consumo.
Recém-inaugurada, a nova sede da GSK Consumo no Rio de Janeiro foi projetada com o objetivo de proporcionar bem-estar e uma experiência colaborativa aos funcionários, apostando no modelo híbrido e em espaços de interação. Atualmente, a empresa trabalha com uma ocupação de 40% do total disponível no novo espaço e o retorno facultativo, limitado de duas a três vezes por semana.
A busca pelo equilíbrio
Uma das chaves para o equilíbrio na equação entre o trabalho remoto e o presencial é o nível de engajamento do colaborador. Na pesquisa da JLL, em que a maioria disse querer trabalhar, no mínimo, três dias por semana no escritório, ficou claro que, quanto mais trabalho remoto, menos engajamento, mais ansiedade sobre o futuro e menos satisfação com o desempenho e com a empresa.
“As empresas estão entendendo que é preciso buscar a consultoria especializada para o aprofundamento não apenas de um programa de necessidades bem estruturado, mas também para uma análise qualitativa, aplicando pesquisas e entrevistas com a liderança para o alinhamento dos objetivos da empresa”, explica Roberta, da JLL.
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“Com essa metodologia, é possível definir as tipologias adequadas para a empresa independentemente das tendências. Existem iniciativas, por exemplo, tomando como base a diversidade, a inclusão e a neurodiversidade, em que é possível engajar os times para um novo olhar do escritório, colocando em pauta temas relevantes”, completa.
Ao que tudo indica, existem diversos tipos de colaborador no cenário pós-pandêmico. Algumas pessoas vão procurar o escritório como um lugar tranquilo para se concentrar, porque suas casas podem não ser propícias para isso. Outros, especialmente os funcionários mais jovens e novos no local de trabalho, estarão focados em engajar, fazer networking e interagir. E, nesse caminho, as empresas terão que estar preparadas para atender às demandas mais diversas.
“A melhor experiência varia muito de uma pessoa para a outra e até mesmo de uma empresa para a outra. Trabalhar de casa traz mais qualidade de vida, mas o escritório é um espaço crucial para a interação. No caso da concentração, algumas pessoas conseguiram adequar o seu espaço de casa, mas muitas ainda preferem o espaço corporativo para realizar tarefas mais complexas”, afirma Andressa, da GSK Consumo.
“O trabalho híbrido veio para ficar. Sobre isso, não resta mais dúvida. Mas os melhores locais de trabalho são criados pelas pessoas e elas vão decidir o que é melhor para cada um. Encontrar o equilíbrio é fundamental para evitar o cansaço do trabalho remoto e, ao mesmo tempo, garantir os benefícios que o escritório oferece”, finaliza.
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